A morte está a bater a porta, não á ouves?
Depois de o ver, a única coisa que consegui fazer foi segurar-me as barras de ferro da cama, por mais que quisesse poder-lhe segurar na mão e acaricia-la, por mais que me doiá-se ve-lo assim, sentia que não conseguia fazer nada.
Ve-lo ali deitado sem conseguir falar, cansada tentando ainda assim abrir os olhos para me ver a mim e ao seu filho. Ele tentava se mexer, mas logo parava; devia de lhe doer pois logo a seguir parava.
Nem falar com ele eu conseguia. Doeu-me tanto, muito mais por ver o meu pai a falar com ele e nem ter uma resposta. O máximo que se conseguia era um aceno com a cabeça.
Sentia a barra de metal mais quente do que pensei, de tanta força com que a agarrava.
Pouco tempo já tinha passado de ali ter entrado e já me sentia cansada. Pergunto-me se também ele já estaria tão cansado de estar ali.
Os ossos salientavam-se tanto que pareciam querer romper da pele dele. A barba por fazer parecia crescem em frente dos meus olhos. Os braços, as pernas, as mãos, o rosto, tão magro, tão esquelético. Tão penoso, que sentia que ninguém poderia fazer alguma coisa por ele, ali deitado tão indefeso como uma formiga.
Queria poder-lhe fazer um carinho de neta, mas o passado vinha-me a cabeça e lembrava de tudo aquilo que ele nunca fez por mim. Se fosse eu ali deitada na cama, ele teria-me vindo visitar? Ou mesmo vindo até ao hospital?
Meu Deus, o estado dele é tão triste, tão horroroso que tudo naquele quarto parecia morto.
As pequenas sombras estendiam-se pelo chão e parede como se quissesem sair dali o mais depressa possível.
E a única coisa que eu conseguia fazer era olhar para ele, enquanto o meu pai falava com ele sem resposta.
A morte está ali, a ver, a observar, a prestar atenção a tudo. E eu perguntava-me: " por quanto mais tempo vai ele fazer-lhe sofrer, viver ali os seus últimos momentos? Quando vai ela leva-lo para um outro lugar e deixar-nos a toda a família : Como foi isto aconteçer? "
Na hora de ir embora nem lhe consegui dizer " adeus, até amanhã" ou algo semelhante. Não lhe disse nada.
Talvez quando a hora vier eu lhe direi o mais triste e verdadeiro adeus porque sei que a morte está quase ai.